A letra possui um aspecto narrativo, além de um caráter cíclico e comparativo. A última palavra de cada verso,é sempre uma proparoxítona, o que torna o ritmo da música bem marcado e repetitivo. Os versos ,demonstram que o sujeito da canção é um homem, pai de família, que tem um grande laço com sua mulher e um indício de que possui vários filhos. Sugere ser de baixa condição social, devido ao andar tímido, e também pelo número de filhos. O desempenho no emprego é comparado a uma máquina, o que nos revela que o homem trabalha sem questionar o que faz. Pelo fato da letra ter sido escrita na época da ditadura, nos remete a pensar que Ele, ou faz aquilo que mandam ou é punido. O emprego está ligado à construção civil. Apesar de evidenciar temas de solidez o sentimentalismo se faz presente em “ Seus olhos embotados de cimento e lágrima“ ou seja nos olhos do trabalhador , a frieza do cimento contrasta com a fraqueza das lágrimas, interessante paradoxo , algo que reflete o sofrimento dessa condição social. Fica evidenciado o alívio da hora do descanso, que é o sábado e o alcoolismo desenhado em algumas frases. Podemos retirar também que o homem trabalha em um prédio tão alto que tropeçar de lá é quase como tropeçar do céu. E a música vai finalizando , assim como quando fala dos últimos momentos de vida do homem , após sua queda . Nos últimos versos, vemos a indiferença do cidadão, que ao estatelar-se no chão, a única preocupação que ocorre por parte do publico que ali estava foi em relação ao trânsito, como se um objeto tivesse caído e não um pai de família. A contradição existente é que dentro de casa o homem é o líder, mas na rua é um sujeito qualquer, um parafuso da engrenagem capitalista. E quando diz que morreu na contramão atrapalhando o sábado, entende-se que o descanso do publico foi atrapalhado pela morte do trabalhador. No arranjo da musica, percebe- se que a ultima estrofe é de um modo mais acelerado, com sons vindo de todos os lados. Esse efeito gera uma confusão, um desnorteamento que ilustra a vida sem rumo daquele trabalhador. O que mostra que isso é comum, com a repetição das estrofes, e acontece com vários trabalhadores por aí, invisíveis à sociedade.
Construção - Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a últimaBeijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o últimoE se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormirBeijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
Construção - Chico Buarque by dennydesign
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