Finalmente chegou à Ribeirão Preto, o espetáculo que já tem 8 anos, e que já correu por diversas cidades brasileiras, sempre com um grande sucesso.
Falo de " Dama da Noite", com a direção de André Leahun e atuação de Luiz Fernando Almeida.
Baseado no conto de mesmo nome, do livro " Os Dragões Não Conhecem o Paraíso " de Caio Fernando Abreu, de 1988, a peça até hoje tem um texto totalmente atemporal, e segundo Luiz Fernando Almeida a fará até o momento em que a sociedade permaneça sem evoluir .
DAMA DA NOITE - Cestrum Nocturnum ; De textura semi-lenhosa, de tipo arbustiva e muito conhecida pelo perfume de suas flores.; planta poderosa e tem o poder de realizar desejos.
Adorei o prólogo da peça, se é que podemos falar assim, onde o personagem de Luiz Fernando Almeida está todo montado numa peruca tipo Amy Winehouse, um figurino todo customizado e uma bota preta longa.
O melhor de tudo era a trilha sonora que tocava ao fundo e ele repetindo alguns de seus bordões já interagindo com a plateia que ali se acomodava .
Gostei muito do jeito como ele andava sobre suas botas, do estilo como falava, tudo me pareceu muito cenográfico.
O monólogo começa, com uma cadeira, uma mesinha, maços de cigarro, uma bolsinha vagabunda, brincos, pulseiras, uma garrafinha de água, e latinhas de cerveja. Pronto! É tudo que o personagem precisa para desenvolver seus momentos de solidão, tristeza e revolta perante sua figura na sociedade.
O mais importante do texto, é a roda que ele fala. Esse é o problema, de ele não estar inserido na roda. Por que isso ? Só pelo fato de ser diferente da maioria ? Mas, ele tem dinheiro para comprar sexo, bebidas, entrar em casas noturnas e sair ....sozinho ... sempre sozinho...
Por que ?
O dinheiro não compra o amor que ele tanto quer . Solidão ...
" A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo. Ia dar. Ia dar. Sabe quando vai dar ? Pra vocês, nem isso. A gente teve a ilusão. Mas, vocês chegaram depois que mataram a ilusão da gente. Tava tudo morto quando você nasceu, boy. E eu já era puta velha. Então eu tenho pena. Acho que sou melhor. Sei porque peguei a coisa viva. Tá bom, desculpa gatinho. Melhor, melhor, não . Eu tive mais sorte, foi isso? Eu cheguei antes. E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta, que roda sem fim, sem mim. No fundo tenho nojo dela. "
O personagem interage com a plateia, questionando sobre tabus e assuntos pertinentes ao sexo . Mas, isso é só uma provocação . Não muda nada pra ele ...
A plateia responde. Como ele quer ... Mas, não é só isso. Ele quer mais ...
As canções de referência do escritor Caio Fernando Abreu tocam ao fundo , mais melancolia em cena.
E a morte ? E a AIDS ? A Dama da Noite tem todos esses questionamentos . Ela passa por isso .
Você já ficou bem perto da MORTE ? Já viu gente morta ? Como é ser MORTO ?
Choro ...Catarse ...
Não . Ainda não amadurecemos ao ponto de resolvermos todas essas questões . O sexo é ainda uma caixa preta para todos.
Pouca luz ...É ...Trevas ...
A máscara cai . A pintura e a caracterização sai de cena .... Mas, o sofrimento é o mesmo .
Não ! Não evoluímos!
Ah, com relação à roda, também tenho nojo, não gosto dela, acho hipócrita, falsa . Verdadeiro é você DAMA DA NOITE !
No final, batemos um papo super agradável com o Luiz, que contou seus projetos, um pouco de suas projeções futuras e com muita simplicidade e generosidade falou com todos.
Valeu a pena!
Eu recomendo !
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