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terça-feira, 24 de julho de 2012

"Carlos Drummond de Andrade " Ou Novos Poemas


O grande poeta mineiro , de Itabira, deixou  datilografado poemas da "Triste Alegria " , escritos pelos anos de 1924 .

Hoje, quase 100 anos depois , esses 25 poemas inéditos, deram origem ao livro   " Os 25 Poemas da Triste Alegria " , de Carlos Drummond de Andrade,  lançado  pela editora Cosac Naify .

Em reportagem pela  " Revista Bravo " , podemos encontrar 6 dessas obras primas , que se seguem abaixo :


A SOMBRA DO HOMEM QUE SORRIU

Ah ! que os tapetes não guardem
a sombra inutil dos meus passos...
Eu quero ser, apenas,
um homem que sorriu e que passou,
erguendo a sua taça, com desdém.


PRIMAVERA NAS FOLHINHAS E NOS JARDINS

O perfume das rosas entra-me pelo quarto,
Numa lufada de primavera.
E eu fico, desvairado, a sentir o perfume,
O perfume das rosas, pelo quarto...

Numa lufada de primavera !

Que bom, ler os poetas sadíos,
E não saber da lua, das estrellas,
E não saber do amor! E não saber de ti!
(De ti que és pallida e feia ,
Pallidamente feia e melancolica.)
Mas apenas sentir, allucinante e forte,
O perfume das rosas, pelo quarto
Numa lufada de primavera!


QUASI-NOCTURNO, EM VOZ BAIXA

Tuas mãos envelhecem,
na prata fosca do silencio.

O silencio, pelo crepusculo,
é um arminho
ondeas mãos repousam com doçura.

Tuas mãos, no silencio,
pelo crepusculo, são mais finas
e mais leves.

O silencio, o doce silencio,
vestiu de cinza transparente
as tuas mãos, pelo crepusculo.


VÊ COMO A AGUA SUSSURRA

Vê como a agua sussurra no fundo dos tanques ermos,
Como a agua, intimamente, chora.
E na face dos tanques ermos
Boiam flores azues, grandes flores indiferentes.

A agua espadana no ar, em florido repuxo.
A alegria da agua subindo
Sobre a indiferença azul das grandes flores !
-Vê o repuxo cahindo
Novamente, sobre os tanques ermos.

Nos jardins,
A ironia da vida é feita de belleza.

(Que ridiculo pensamento...)



GRAVADO NUMA PAREDE

Saber que tu não virás nunca encher de rosas o meu quarto,
encher de belleza a minha vida...
e continuar à espera de tua graça dolente e sobrenatural,
continuar à espera, de mãos vazias...

Saber que não partirás o meu pão, que não beberemos juntos, ao jantar, um pouco d'aquelle amavel e grato vinho velho,
que não accenderás a minha lampada,
que o piano não possuirá os teus dedos...

Saber tudo isso , o impossivel e o irremediavel
de tudo isso...e continuar sonhando inutilmente.

Ah! Por que não virás encher de rosas o meu quarto?

Ao menos,
vem encher-me de lagrimas os olhos.


A MULHER DO ELEVADOR

A que ficou lá longe, na grande cidade...

A que eu vi apenas um minuto, um minuto somente,
No elevador que subia.

Com que saudades inedita eu me lembro
Da que não foi nem uma sombra, uma sombra fugaz,
No meu destino.

Da que ficou, sorrindo, com um pouco de mim,
Com um pouco do meu ser, anonymo e vulgar,
A milhares de kilometros, na grande cidade...

PS:  A grafia mantém o original da época em que Drummond escreveu os poemas .

Por essa breve amostragem, vale a pena o novo livro de Drummond !

2 comentários: